quinta-feira, 2 de outubro de 2008

PREGAÇÕES DO PR. FAUSTO AGUIAR

2.4 A Procura de Substitutos à Pregação
Não resta dúvida que a Bíblia nos ensina acerca da centralidade da pregação. O próprio Senhor Jesus dedicava-se à pregação em seu ministério: “Ele porém lhes disse: É necessário que eu vá também às outras cidades e anuncie o evangelho do Reino de Deus; porque para isso é que fui enviado. E pregava nas sinagogas da Judéia.” (Lucas 4:44). Embora Jesus se destacasse pelo seu ensino e pelas curas que operava, a pregação ocupou lugar central em seu ministério.
O verbo grego kerusso, “proclamar”, “anunciar como um arauto”, é aplicado a Jesus tanto no texto acima como em vários outros: “Foi Jesus para a Galiléia pregando o Evangelho de Deus” (Marcos 1:14), “E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino...” (Mateus 9:35).
Na Bíblia também aprendemos que Jesus transmitiu esta mesma prioridade aos seus discípulos. O capítulo 3 do Evangelho de Marcos nos descreve que Jesus, depois de orar, “chamou a si os que Ele mesmo queria” e que, vindo a Ele, “designou doze para que estivessem com Ele, e os mandasse pregar...” (v. 13 a 15). Em Lucas 9:2 novamente encontramos que Jesus enviou seus discípulos a pregar.
Que tal prioridade foi abraçada pela Igreja apostólica, o livro de Atos não nos deixa dúvidas. Que a pregação era vista como prioridade pelo apóstolo Paulo, suas cartas bem podem atestar. Em II Timóteo 4:2 o apóstolo transmite ao seu “filho” uma recomendação que bem atesta o que na sua opinião era prioridade no ministério pastoral: “Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino”.
Num artigo publicado em O Jornal Batista, Fausto Aguiar Vasconcelos referiu-se ao célebre Pr. Rúbens Lopes e a uma frase de sua autoria: “O púlpito é o apogeu do ministério pastoral”. Concordando com esta opinião, o articulista enaltece a oportunidade que o pregador tem dominicalmente de ministrar a Palavra de Deus ao seu rebanho e a responsabilidade que isto confere ao pregador. O mesmo afirma que, diante de tamanha responsabilidade, o pastor não deve afastar-se de seu púlpito, a não ser excepcionalmente, justamente porque “o púlpito é a maior arma do pastor”.
Esta mesma opinião é defendida por Lloyd-Jones na obra que é resultado de suas preleções proferidas aos estudantes do Seminário Teológico Westminster, durante seis semanas, em 1969, com o tema “A Pregação e os Pregadores”. Para ele a pregação, além de ser tarefa primordial da Igreja, é a salvação para restabelecer o papel da Igreja no mundo. Ele acreditava que se houver pregação nos moldes corretos as pessoas virão para ouvi-la, pois a pregação sempre atrai pessoas.
Deus continua sendo o mesmo, e o homem continua sendo o mesmo... Ele honrará este método. Esse é o método através do qual as igrejas sempre vieram à existência.
Este mesmo autor comenta acerca dos substitutos da pregação no culto, chamados à existência pelo declínio na importância da pregação. O autor nota uma incrementação do “elemento de entretenimento no culto público”. Este elemento de entretenimento pode relacionar-se a muitas práticas adotadas pelas Igrejas modernas e que visam simplesmente satisfazer o povo. Não que haja erro em “satisfazer o povo”, afinal estamos tratando justamente da necessidade de a pregação atentar para as reais necessidades do povo. Acontece que o tal “entretenimento” que, consequentemente ocupa o lugar deixado pela pregação, não dá ao povo o que este precisa, mas o que o povo gosta.
Esta é a questão: a pregação é insubstituível. Outros elementos do culto podem auxiliar a pregação, mas não substituí-la.
Nos nossos dias já é normal que Igrejas tenham longos momentos de cânticos alegres e juvenis, com suas melodias simples e de fácil aprendizado. Muitas vezes estes cânticos pouco têm a ensinar devido à simplicidade de suas letras que, nem sempre, são elaboradas seguindo preceitos doutrinários corretos. Testemunhos de bênçãos alcançadas, períodos de intercessão, dentre outras práticas, têm feito parte da liturgia de número crescente de nossas Igrejas. Tais coisas não são perniciosas em si, porém, atentamos para que sua utilização acentua-se na medida em que a pregação torna-se insatisfatória.
Aliás, vale ressaltar que no meio “evangélico” nacional coisas espantosas se tem feito. Há expulsões de demônios esdrúxulos, como o da obesidade, da caspa, da bronquite e da asma. Num artigo publicado na revista Ultimato, Marcos Roberto Inhauser, teólogo menonita, refere-se a uma igreja carioca onde plantou-se arruda em frente ao templo para impedir a entrada de demônios. Noutra, segundo o autor, os membros são orientados a vir com um galho de arruda na orelha para impedir que Satanás atrapalhe na hora de ouvir a mensagem.
Inhauser comenta também acerca de uma igreja em Campinas que vendeu folhas da Bíblia do púlpito e orientou os compradores a comê-las para que tivessem a Palavra de Deus “por dentro”. Ainda sobre as tendências de se substituir a pregação por elementos de entretenimento no culto, Inhauser observa:
A exposição séria da Palavra tem cedido lugar aos testemunhos. O louvor praticado em algumas igrejas fala mais de guerra, pisar os inimigos, destruir os adversários, que em voltar a outra face a quem lhe bate em uma, andar a segunda milha e amar os inimigos. Fala-se de guerra e não se menciona que bem aventurados são os pacificadores. Fala-se de conversão sem dar ênfase ao discipulado radical. Fala-se do espiritual sem falar do amor ao próximo na sua necessidade material.
Estes “elementos de entretenimento” realçados nos cultos contemporâneos em muitas Igrejas, mesmo batistas, até funcionam como catalizador do povo, sobretudo a juventude. O problema está na insuficiência da mensagem pregada pois, como afirma o autor acima, há cânticos populares que contém ensinos incompletos ou até antagônicos ao modelo bíblico.
Ultimamente muito se tem comentado acerca do espantoso crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus que, em cerca de dezessete anos arrebanhou, segundo a Revista Veja, 3,5 milhões de fiéis e já se espalhou por 34 países. Em número de fiéis só perde para a Igreja Assembléia de Deus; no entanto é a única a possuir uma rede de televisão, com 47 emissoras, um banco, uma gravadora e mais de uma dezena de emissoras de rádio.
Citamos estes dados para exemplificar como, com elementos que não a pregação na sua concepção puramente bíblica, pode-se arrebanhar multidões.. Um de seus ex-bispos, de nome Sérgio Von Helde, protagonista de uma grande polêmica em virtude de ter agredido diante de câmaras de televisão uma imagem da santa católica, Aparecida, em entrevista publicada pela mesma revista, demonstrou ser uma pessoa iletrada, que não lê nada além da Bíblia, nem jornais, e que nunca leu um livro na vida que não fosse a Bíblia.
Esta facilidade de as Igrejas crescerem através de outros recursos que não a prioridade da pregação é observada também no contexto da Igreja norte americana. Warren Wiersbe reconhece esta tendência pelo entretenimento. Para ele o principal substituto à verdadeira pregação é o desejo de que a Igreja receba a aprovação do mundo em geral e das pessoas “importantes”, em particular. Ele afirma que a Igreja de seu país trocou a aprovação de Deus pelos aplausos dos homens. Em busca destes aplausos tanto a pregação como tudo mais que constituem o culto se tornaram em mero entretenimento para o público cristão. Nesta crítica o autor ressalta também o que chama de “culto à personalidade”, uma tendência de valorizar pessoas e ministérios centrados em líderes carismáticos.
Assim, os tidos “elementos de entretenimento” se constituem no meio mais fácil de se arrebanhar pessoas. Ressaltamos ainda que a própria pregação pode se constituir num destes elementos, na medida que se proponha a simplesmente preencher um espaço dentro de uma estratégia.
Entendemos, portanto, que nossos dias são marcados pelo crescente desprestígio da pregação, isto refletindo-se no acentuamento de uma crise de identidade. A relação entre a pregação sem relevância e a insalubridade da vida cristã do povo é incontestável. Observamos ainda que a falta de crescimento de nossas Igrejas é sintoma do lugar ocupado pela pregação nos nossos dias e que a máxima “púlpito inócuo, bancos vazios” explica, ao menos em parte, o esvaziamento de muitos templos. Uma tentativa de impedir a apostasia, que não pelo tradicional método da pregação contextualizada, é a implementação do que chamamos “elementos de entretenimento”.
Acreditamos que os demais elementos do culto precisam contextualizar-se à cultura dos adoradores a fim de torná-los mais que simples assistentes nos cultos. Entretanto, verificamos que o desafio maior dos pregadores é restaurar o prestígio da pregação nos nossos dias. No próximo capítulo indicamos os primeiros passos nesta direção.

PREGAÇÕES DO PR. FAUSTO AGUIAR

2.3 A Apostasia dos Membros da Igreja
O Pr. João Falcão Sobrinho, num artigo propondo uma forma de atuação da Igreja para com seus excluídos estima que para cada cem batistas brasileiros haja quarenta e dois excluídos. Ele dá o exemplo de um bairro no Rio de Janeiro onde foi feito um levantamento e constatou-se que ali haviam mais batistas excluídos do que membros da Igreja local. Segundo o manual de “pré-evangelização” da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileiro, em nossas Igrejas, em média, batizou uma pessoa para cada dez que “se convertem” e chegamos a excluir 50% dos que batizamos.
Até que ponto esta apostasia tem a ver com a pregação que se faz na Igreja? Em 1986, num Congresso Nacional de Evangelização e Missões, ocorrido no Rio de Janeiro, o Pr. Irland Pereira de Azevedo apresentou um estudo no qual alistou alguns dos motivos pelos quais igrejas estão morrendo, dentre estes a pretensão de trazer os homens à Igreja antes de lhes falar de Cristo.
Outro motivo apontado pelo ilustre pregador foi “a pregação de um evangelho barato, antropocêntrico e deslembrado da soberania e Senhorio de Cristo”. Isto posto, é inegável que dentre outros fatores, a pregação é estreitamente relacionada ao êxodo que boa parte dos membros empreende das igrejas.
Igrejas com bancos vazios não são, infelizmente, exceções nos nossos dias. Uma explicação para a quantidade de bancos vazios numa Igreja é encontrada no livro de Blackwood, onde transcreve um estudo do inglês Charles Morgan.
O púlpito deveria alimentar as ovelhas e não apenas “divertir a assistência”. O que o ausente exige e deixa continuamente de achar, é algo que o interesse e desafie na Igreja. O que mais o desaponta são os sermões - não como muitos pastores modestamente supõem, por serem longos demais ou porque ofendem o ouvinte, mas pela razão oposta, por serem mesquinhos, por não irem bem ao fundo da questão e por serem conciliadores e tímidos demais... Quando o sermão começa, o que deseja ouvir... É o pastor que, sem temor nem compromisso, relacione o seu assunto, qualquer que seja com as verdades mais profundas do Cristianismo.
Desta forma, parece-nos inegável que dentre outras conseqüências, a apostasia reflete o lugar descaracterizado que a pregação ocupa atualmente em nossas Igrejas e confirma a tese de que bancos vazios refletem púlpitos descontextualizados. Vale lembrar ainda que boa parte dos “apóstatas” termina por vincular-se a outras denominações, geralmente neo-pentecostais.
O abandono da Igreja é visto por Martha Saint de Berberián como, em muitos casos, decorrência da “desnutrição espiritual” a que os membros ficam expostos quando seus pastores não são eficientes no suprimento do “alimento”. Esta autora expõe a necessidade de o pregador estar consciente da variedade de necessidades que envolvem uma congregação para então dedicar-se a supri-la com “uma dieta balanceada” por sermões com temas e objetivos variados, práticos e que toquem as vidas das pessoas com a Verdade de Deus.
Samuel Escobar, professor de Missiologia e Estudos Hispânicos no Eastern Baptist Theological Seminary, em Filadélfia, EUA, batista boliviano e ex-secretário executivo da Aliança Bíblica Universitária, escreveu um artigo em que respondeu à questão do porque do crescimento dos protestantes na América Latina. Segundo fontes citadas pelo autor, os evangélicos chegam a 12,5% da população do continente. Não é difícil perceber que tal índice de crescimento espelha principalmente a expansão das Igrejas Pentecostais e neo-Pentecostais nestas últimas décadas.
A mobilização dos leigos e a ativa participação popular nas tarefas da igreja, marcas características do pentecostalismo, são apontadas por Escobar. Outra característica marcante dos pentecostais é a adentração que tais Igrejas têm junto à população marginalizada com uma proposta de auxílio às suas carências, inclusive materiais que, para o autor, também explica este crescimento. Eles crescem porque “têm conseguido atingir melhor os pobres emocionalmente e consolá-los”.
Sendo assim, deduzimos que grande parte da migração dos membros para denominações pentecostais e neo-pentecostais explica-se pelo tipo de mensagem que recebem ali. Não discutimos a legitimidade da mensagem pentecostal, no entanto, isto nos alerta para o fato de que esta mudança é também conseqüência da insensibilidade dos nossos púlpitos para com essas mesmas necessidades.
Se os médicos de um hospital que tem todos os mecanismos de pesquisa e tratamento das enfermidades da população não se dedicam a utilizar os melhores tratamentos para com os enfermos, estes desistem e vão em busca de alternativas. Nossos pregadores não têm identificado corretamente as doenças do povo de nossas Igrejas e, muitas vezes, lhes têm designado “medicamentos” inócuos.

PREGAÇÕES DO PR. FAUSTO AGUIAR

2.2 A Crise de Identidade da Igreja
O que é ser cristão no mundo, hoje? Parece-nos que esta pergunta não tem sido bem respondida pelos pastores com seus sermões. Nossa pesquisa junto aos membros das Igrejas Batistas da região de Campinas aponta que há diversos temas atuais que nunca são abordados por quase a totalidade dos pregadores, embora seus ouvintes vivam num mundo perturbado por tais questões. O mais grave disso é que nossa pesquisa junto aos pastores aponta que boa parte deles nem sequer busca conhecer ou atualizar-se acerca destas questões cruciais e atuais.
É claro que tal alienação por parte dos pastores não se deve pura e simplesmente à má vontade destes, mas a uma estrutura muito mais complexa, explicável pelo diagnóstico da “crise de identidade” que afeta também estes pastores. Pensamos que, de modo geral, os pastores não respondem à pergunta “o que é ser cristão no mundo hoje?” porque, principalmente, não conseguem fazer uma leitura fidedigna da realidade que nos cerca.
A necessidade de a Igreja adaptar-se ao contexto social é reconhecida por Merval Rosa. Para ele na falta desta capacidade está a razão para que a nossa pregação quase sempre se dirija a problemas apenas em termos genéricos. Para ele, damos margem àqueles que nos acusam de pregarmos “uma espécie de alienação”.
Merval Rosa conclui que a pregação é o principal meio para transmitir ao homem códigos que lhe possibilitem ser “sal e luz para a Terra”. Da forma como a pregação é feita hoje, onde o indivíduo ouve que deve tornar-se agente de transformação na sociedade, mas deixa de receber os instrumentos para esta ação, a crise de identidade tende a perpetuar-se.
O indivíduo convertido por nossa pregação fica quase sempre fechado e protegido dentro da comunidade evangélica numa espécie de marginalização social. (...) Em grande número de casos é difícil encontrar a relação entre aquilo em que nós cremos e nosso comportamento na vida cotidiana. Será que um pregador do Evangelho do período apostólico reconheceria nossa pregação? Ao entrar hoje em nossas igrejas para ouvir nossos pregadores o que pensariam que estão querendo dizer? Será que o protestantismo do Brasil se identifica com a fé Bíblica e com o Espírito da Reforma ou está se tornando cada vez mais um moralismo que enaltece a capacidade de autoredenção do homem? Estamos produzindo cristãos que sejam novas criaturas, sal da terra e luz do mundo, força dinâmica de transformação ou meros conformistas a um legalismo asfixiante e a um moralismo castrante?
Interessante notar que Merval Rosa atribui a culpa pelo Cristianismo desfigurado dos nossos dias ao tipo de pregação que se pratica em nossas Igrejas. Atentando para suas ponderações podemos concluir que o resultado deste tipo de pregação geradora de crise produz, não discípulos de Cristo, mas fariseus modernos.
Analisando a Igreja evangélica brasileira deste final de milênio Caio Fábio afirma que o maior problema desta está relacionado à ética. Para ele há uma fraqueza ética na Igreja, cuja raiz deriva-se da “fraqueza reflexiva”.
Essa Igreja alegre e feliz identificada com boa parte da população tem dado muito pouco valor ao estudo e à reflexão na Palavra. Sem o estudo, sem a reflexão, não se adensam no coração de ninguém os referenciais que formam o caráter, que balizam o comportamento, que enchem o ser com conteúdos éticos, que o capacitam a viver não apenas uma santidade religiosa, mas uma santidade social ampla.
Justamente a falta de estudo e reflexão na Palavra é o fator levantado para implementar uma “crise de ser” da Igreja. E qual é a maneira clássica pela qual o povo ouve e reflete na Palavra? Não resta dúvida que na medida em que a pregação torna-se ineficiente e abdica da sua condição e importância que a própria Bíblia lhe atribui, o povo perde os referenciais que lhe possibilitariam viver o Cristianismo na essência.
A realidade social e cultural contemporânea com a qual a Igreja brasileira tenta conviver é descrita por Christian Gillis num artigo onde propõe alternativas à Igreja a fim de galgar o desafio da contextualização. Ele aponta seis principais fatores que determinam esta nova realidade. O primeiro deles ressalta as mudanças políticas e econômicas ocorridas a partir da década de 70 e que, inegavelmente, produziram profundas mudanças sociais. Na visão deste autor tais mudanças geraram uma “crise institucional generalizada” e exigiu também novas respostas teológico-eclesiásticas.
Os outros fatores que, segundo Gillis, cooperam para o surgimento de um novo ordenamento sócio cultural são: o desmantelamento das estruturas e economias comunistas, o desenvolvimento tecnológico nas comunicações, na informática e na biologia, o movimento feminista, a acelerada urbanização, o renascimento místico e a consciência ecológica.
Todos estes fatores correspondem a tendências que têm consolidado uma nova mentalidade com a qual a Igreja precisa aprender a lidar.
É nesta realidade histórica que a Igreja precisa sobreviver e desempenhar sua tarefa. Justamente pela complexidade do panorama histórico é que se acentua a crise de identidade da Igreja. Gillis afirma que a Igreja erra em preocupar-se demasiadamente com o passado, ao mesmo tempo que não percebe as mudanças ocorridas ao redor. Para ele o problema da Igreja não está na questão do “ser Igreja”, mas no “como ser Igreja aqui e agora”. Conclui ser preciso uma remodelação das estruturas da Igreja para que seus membros não sejam submetidos a viver entre as paredes eclesiásticas “respirando uma realidade alheia ao mundo”, sofrendo uma espécie de “esquizofrenia histórica”.
É certa e direta a relação entre a situação de desprestígio do ministério da pregação e a crise de identidade da Igreja. Por isso que a pregação, biblicamente, é a principal tarefa do pastor, justamente porque por ela, principalmente, o povo recebe palavras de vida, não somente de vida eterna, mas de vida abundante em meio à sociedade. Quando pensamos na pregação desta maneira, somos motivados a lembrar de Lloyd-Jones, um entusiasta pelo ministério da pregação.
... o pregador não está ali meramente para falar com eles, nem está ali a fim de divertí-los. Ele se encontra ali - e quero ressaltar isto - para fazer algo em favor daquela gente; ele está ali para produzir resultados de várias modalidades, ele está ali para influenciar pessoas. Não lhe compete meramente influenciar uma parte delas; não lhe compete influenciar suas mentes, ou apenas suas emoções, ou meramente fazer pressão sobre a vontade delas, induzindo-as a se lançarem a alguma atividade qualquer. Mas acha-se ali a fim de tratar da pessoa inteira; e sua pregação tem por intuito atingir a pessoa inteira, no próprio centro da vida. A pregação deveria efetuar uma diferença tal no indivíduo que a ouve, que nunca mais ele fosse a mesma pessoa novamente. Noutras palavras, a pregação é uma transação entre o pregador e o ouvinte. Realiza algo em prol da alma humana, em favor da pessoa inteira, do homem todo; trata dele de maneira vital e radical.
Concordando com a centralidade da pregação no ministério pastoral e de sua vitalidade à saúde do povo de Deus, entendemos não haver dúvidas acerca da relação entre o tipo de pregação descaracterizado de fidelidade bíblica mais aplicação relevante e os sintomas que marcam o Cristianismo dos nossos dias.
Esta crise de identidade pela qual a Igreja passa é diagnosticada por diversos autores. Um deles é Ray Harms-Wiebe, num ensaio intitulado “Estrutura Criativa”, onde propõe caminhos para a Igreja brasileira deste final de milênio.
A Igreja cristã, tanto católica quanto protestante, está em crise. Ela já não desfruta mais da posição privilegiada que mantinha há cinquenta anos. Por isso precisa estudar novamente os relatos bíblicos e redescobrir a razão da sua existência.
Esta crise requer uma análise profunda por parte do Corpo de Cristo acerca do seu contexto sócio-cultural. Este autor sugere que cada comunidade local deve se prostrar diante de Deus e pedir “sua visão” para cumprir um papel relevante dentro do momento histórico.
Sem esta “visão”, seremos uma Igreja destinada a morrer! Esta é a conclusão de J. Scott Horrel com relação à Igreja “tradicional e denominacionalista”. Para ele a razão disto se deve às características que são marcantes nestas Igrejas: formas antiquadas, falta de criatividade, falta de penetração junto à população circunvizinha, preguiça espiritual, baixa ética moral e ignorância das verdades bíblicas.
Obviamente, na medida em que a pregação falha e o crente deixa de reconhecer como ser crente no mundo atual, a consequência mais óbvia disso passa a ser a apostasia, o afastamento dos crentes das Igrejas “tradicionalistas”. Estes crentes ou migram para outras denominações ou voltam-se para o “mundo”.

PREGAÇÕES DO PR. FAUSTO AGUIAR

2.1 O crescente Desprestígio da Pregação
A observação de que neste século, mais uma vez, a Igreja está marcada com o declínio da pregação, a exemplo do que houve no período pós-apostólico, é demonstrada por Lloyd-Jones que, mesmo tendo algumas posturas “radicais”, defende a pregação como sendo a principal tarefa do pregador e a razão maior do seu chamado.
No final da década de 60 Lloyd-Jones já denunciava algumas das tendências de mudanças na ordem de culto geralmente pretendidas pelas igrejas, chamando-as de “elementos de entretenimento no culto”. Para ele, na medida em que a pregação perdeu sua importância, foi necessário dar ênfase a outras partes do culto. Em sua análise, o maior culpado pelo desprestígio da pregação é o próprio púlpito; toda vez que o púlpito está correto e a pregação é autêntica, isso atrai e arrebanha o povo para ouvir .
Um famoso ministro norte americano, Warrem Wiersbe, destacado pelo ministério radiofônico que desenvolve há décadas e por alguns livros, escreveu uma obra traduzida para o português com o título “A Crise de Integridade”. Nele, o autor reconhece o desprestígio da pregação no meio evangélico de seu país e conclui: “o tipo errado de pregadores, compelido por motivos errados, criou o tipo errado de cristãos mediante a pregação da mensagem errada.”
Desta forma, a pregação que é tão prioritária para a vida da Igreja tem, nos próprios pregadores, os principais responsáveis pelo seu desprestígio. Vale a pena lembrar a definição da pregação segundo Blackwood: “a verdade de Deus proclamada por uma personalidade escolhida com o fim de satisfazer as necessidades humanas”. Ora, podemos concluir que o fato da pregação estar desprestigiada se deve, principalmente, à incapacidade dos púlpitos em “satisfazer” as necessidades humanas.
Aproveitando a definição acima vale ressaltar que o que faz a pregação é a veracidade bíblica exposta fielmente e aplicada relevantemente ao homem contemporâneo. Parece-nos que nos dias atuais nossos pregadores cumprem a primeira das condições e desprezam a segunda.
Estas mesmas duas condições podem ser encontradas na definição de sermão de John H. Jowett. Para ele o sermão tem que ser uma proclamação da verdade “como vitalmente relacionada com os homens e mulheres que vivem”. Ele diz que um sermão precisa tocar a vida onde o toque seja significativo, “tanto nas suas crises como nas suas corriqueirices”. Completa ainda que o sermão precisa ser “aquela verdade que viaja em companhia dos homens morro acima e morro abaixo, ou na planície monótona”.
É justamente por isso que a pregação é tão importante para os ouvintes. Há uma “fome” deste toque especial patrocinado pela Palavra pregada. Na medida em que esta pregação é ineficiente em suprir os ouvintes desta necessidade, deixa de ser prestigiada.
Este desprestígio é observado também por James Crane. Para ele isto se deve, principalmente, à inaptidão em estabelecer objetivos realmente relevantes para a pregação. Crane lembra que a pregação só tem sentido quando imbuída de um propósito persuasivo. Argumentando acerca disso, ele cita G. Campbell Morgan:
Toda pregação tem um só fim, a saber, o de tomar cativa a cidadela central da alma humana, ou seja, a vontade. O intelecto e as emoções constituem vias de aproximação que devemos utilizar. Porém o que temos de recordar sempre é que não temos atingido o verdadeiro fim da pregação enquanto não for atingida a vontade, constrangendo-a a fazer sua escolha de acordo com a verdade que proclamamos.
Sem este caráter persuasivo a pregação perde sua eficácia e, consequentemente, seu prestígio junto à própria Igreja. E qual o resultado para a Igreja deste estágio em que a pregação se encontra? A própria Bíblia, no livro de Provérbios nos mostra o resultado natural da ausência da legítima e eficiente pregação: “Não havendo profecia, o povo se corrompe”.

REPORTAGEM TENDENCIOSA, mas muito intereçante para se olhar, com um olhar critico

Cidade

Economia

Especial

Esporte

Estado

Geral

Consumidor



O Mundo

O País

Opinião

Perfil

Polícia

Política

Programe-se

TV





São Luís (MA) - terça-feira, 30 de setembro de 2008
REVISTA DA FAMÍLIA

Reportagem Tendenciosa, mas muito intereçante para se olhar, com um olhar critico

Crescendo na fé
Elas pregam, dão conselhos, atendem desesperados e prometem cura. Conheça crianças que atuam como pastoras nas igrejas evangélicas do país
Karla Monteiro
Alex Silva de 13 anos, “cura” uma fiel que desmaiou durante vigíliaAlex Silva entra em ação. É sábado, quase meia-noite. Na platéia, mulheres com roupa de domingo e homens trajando as suas melhores fatiotas. Cerca de 800 pessoas, ao todo. O missionário de pouco mais de 1,40m é o segundo pastor a falar na vigília evangélica da Assembléia de Deus que acontece em uma escola no bairro Parada de Taipas, periferia de São Paulo. Ele começa por uma passagem bíblica que diz “há tempo de plantar, há tempo de colher”. Ironicamente, o pregador em questão só tem 13 anos. Com sotaque baiano, terno muito bem passado e sapato de bico fino, o menino segue a cartilha, ora falando baixo e pausadamente, ora aos berros e quase em fúria. O discurso, cuidadosamente articulado, segue em um crescente, levando os fiéis à beira da histeria. Quase três horas depois, vem o golpe de mestre. Alex convida a turba a se aproximar do púlpito. Glória a Deus: o clima agora é de real catarse. Enquanto algumas pessoas pulam e sacodem freneticamente o corpo, outras desmaiam. O garoto coloca-se, então, à disposição para curar as enfermidades do seu rebanho. A fila se forma. Alex pousa a mão na testa de um por um. Todos desabam após serem tocados. Um homem sai dizendo que foi “libertado” de uma insônia que o acompanha há dois anos:— Hoje eu nem vou tomar remédio. Estou morrendo de sono. Meus olhos não estão vermelhos?Uma senhora idosa enfrenta a fila cinco vezes, sempre munida de retratos de parentes. É derrubada, para usar o jargão local, nas cinco investidas. Para colorir a cena já surreal o suficiente para olhos desavisados, 12 meninas vestidas de longo cor-de-rosa, bordados de prateado, protagonizam, ao fundo, um show de dança, bem no estilo das chacretes. Seis horas da manhã. Dia claro. Alex encerra. Hora de criança ir para cama. Aleluia!Por trás do missionário mirim, existe um mundo, segundo as estatísticas do IBGE, habitado por 37 milhões de almas. O Brasil ocupa o posto de terceiro maior país em número de protestantes, distribuídos em mais de cem denominações evangélicas. Os Estados Unidos, o grande líder, têm aproximadamente 55 milhões de protestantes. A atuação de crianças nesse universo — como Alex, Ana Carolina Lucena Dias, de 12 anos, e Paloma Gomes da Silva, também de 12 anos, os pastores mirins que você vai conhecer ao longo desta reportagem — é cada vez mais comum. Elas pregam, dão conselhos espirituais, atendem desesperados de toda ordem, evangelizam e, claro, gravam CDs e DVDs. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Discos, os produtos gospel abocanham 10% das vendas de CDs e DVDs do país. Só para se comparar: o pop/rock fica com 27% da fatia do bolo e o forró com 15%, enquanto o pagode, a música sertaneja e a MPB têm porcentagem igual: 11%. O axé participa com 3%, a música infantil com 2% e o restante, 10%, fica dividido entre outras variações musicais. Traduzindo em cifras, o setor religioso movimenta sozinho R$ 61 milhões de reais, sem incluir aí, claro, a pirataria. Alex, por exemplo, já está no segundo DVD. Sua vendagem, segundo o pastor Waldir Ruas, uma espécie de mentor espiritual do menino, ainda não está consolidada. Mas seu sucesso é inspirador. Quase milagroso.— Ele está começando. Acabamos de gravar seus DVDs. Para se ter uma idéia, vendemos 70 unidades em exatos três minutos depois de uma pregação num encontro evangélico — conta, animado. — Deus usa muito o Alex para curas. Ele já pregou até na Argentina.Histórias de fé permeiam o caminho dessas crianças que falam de demônios, inimigos e salvação sem nem mesmo terem experimentado o inferno aqui na terra. Campo Grande, Zona Oeste do Rio. Em uma casa simples, caprichosamente arrumada, vive Ana Carolina Lucena Dias. Aos 12 anos, ela já é uma veterana nos púlpitos país afora. Começou a pregar com apenas 3 anos.
Ana Carolina Lucena Dias, 12 anos. A menina, que montou um Pronto-Socorro Espiritual na casa onde mora com os pais, em Campo Grande, no Rio, começou a pregar aos 3 anos. Nas fotos, ela ora com uma fiel, lidera um culto na Tijuca (abaixo) e autografa um dos quatro CDs que já lançou
De sandália de salto da Melissa, Carol diz, com lágrimas nos olhos, que só está viva por milagre. Aos 2 anos, ficou doente e foi desenganada pelos médicos. O pai, o pastor Ezequiel Dias, da Assembléia de Deus, resolveu, então, entregar o caso para Deus. E, na mesma madrugada, após ouvir uma voz, a menina teria pedido comida. Um ano depois, seu Ezequiel foi a uma rádio, levando a filha a tiracolo, para anunciar uma vigília da sua igreja. O locutor sugeriu que a garotinha fizesse o anúncio. Em vez de dar o recado, Carol começou a pregar. Sem roteiro, sem ensaio. O telefone disparou. Eram fiéis que tinham sido “tocados” pela criança. Estava assim traçado o caminho da menina, que ficou ainda mais conhecida no site YouTube. Carol já percorreu programas de TV e tem quatro CDs gravados. Faz, em média, oito pregações por mês, atende por telefone em seu Pronto-Socorro Espiritual, um escritório bem montado no segundo andar de sua casa, já viajou em missão para a Alemanha e duas vezes para os Estados Unidos. Em breve, será personagem de um documentário produzido pelo canal 4 da Inglaterra. — Na Alemanha, tem uma história engraçada. Lá é proibido pregar na rua. Eu falava Jesus te ama em alemão bem alto. Aí apareceu um carro da polícia. Saímos correndo. Tive que ficar escondida no hotel até a hora do culto — conta. — Não dá para explicar o que eu sinto. Sinto uma alegria enorme vendo pessoas se rendendo ao Senhor. Nosso maior objetivo é alcançar almas para o reino de Deus.Carol é doce, tímida, inteligente, cheia de sonhos. Conta que quer ser juíza, mostra a coleção de ursos de pelúcia e a cama onde dorme, ainda no quarto dos pais. Ela é unha e carne com seu Ezequiel. Inseparáveis, como define a mãe, Suzana. Quando sobe no púlpito, no entanto, a menina vira gente grande. Em uma quinta-feira, na Tijuca, Carol pregou para mais de 500 mulheres da comunidade evangélica da redondeza. A menina pastora começou o show por volta das 21h. Tirou as sandálias e deu início. — Faixa 4, amado, por favor — pediu ao responsável pelo som. Ela recorreu a uma passagem bíblica sobre a prostituta Hagar, que era uma “boa senhora, porém prostituta”. A garota repetiu as palavras “porém prostituta” duas, três, quatro, cinco vezes. Seguiu a pregação por cerca de duas horas, alternando eloqüência e brandura. Concluiu dizendo que, como Hagar, todos têm um porém na vida. — Amados, eu tenho um porém. Vocês têm um porém. Mas tenho certeza que, quaisquer que sejam os nossos poréns, Jesus, Ele, está conosco — arrematou. A platéia explodiu. — Assim como se estuda para uma prova, se estuda para uma pregação. Eu escolho um personagem da Bíblia, pesquiso sobre esse personagem e pego opiniões com o meu pai. No fim, monto um texto-base só para me dar direção. Mas na hora flui, recebo mensagens — garante. — Eu me considero uma adolescente normal. Brinco com as minhas amigas, vou à escola. A diferença é que preciso do meu momento de calma, do meu momento com Deus todos os dias.A explicação para o fenômeno dos pastores mirins é simples, segundo várias correntes. A antroposofia, por exemplo, ciência desenvolvida pelo austro-húngaro Rudolph Steiner, divide a infância em setênios. Nos primeiros sete anos, a criança imita e, de 7 a 14, ela sente, mas ainda não elabora o pensamento. Dentro dessa lógica, os pequenos missionários agem movidos pelo sentimento. Puro instinto. A filósofa Viviane Mosé aposta na associação da força desses sentimentos a uma inteligência acima da média. A pregação seria só a forma que encontraram para expressar a sua capacidade. Já a psicanálise aponta para a “identificação maciça”, como explica Joel Birman: — As crianças entram de cabeça em tudo o que fazem. Os adultos têm mais defesas. No processo de identificação maciça, você é o outro. É mais do que ter o que o outro tem. É ser o outro. Dentro do universo evangélico, ser pastor é o equivalente a ser artista de cinema.
Paloma Gomes da Silva. 12 anos a pastora Palominha, como é conhecida, lê a Bíblia na porta de uma loja de produtos religiosos em São Paulo, onde atrai fiéis como Narriman Vitória, de 3 anos, que já ensaia para virar missionária (acima). Abaixo na foto menor, Paloma brinca com os irmãos em casa
Pastores viram celebridades mirins
Alex Silva, 13 anosO baiano que se mudou para São Paulo para investir na carreira de pastor banca o curandeiro numa vigília que vai até de manhã. Na foto menor, ele se arruma para o culto diante dos filhos do pastor
Na porta de uma loja de produtos religiosos no centro de São Paulo, Paloma Gomes da Silva, de 12 anos, é, de fato, uma celebridade. Seus CDs e DVDs vendem como água. A menina distribui autógrafos enquanto canta e prega para dezenas de fiéis que se aglomeram à sua volta. A pastora Palominha, como é conhecida, começou a carreira aos 7 anos. Até então, fazia showzinhos para as crianças do prédio onde seu pai, Severino Luís da Silva, era zelador. Quando foi demitido do emprego, seu Severino, evangélico ferrenho, resolveu investir no dom da filha. Apostou o fundo de garantia, cerca de R$ 16 mil, na divulgação da garota. Seu primeiro CD vendeu 16 mil cópias. O segundo, recém-lançado, está em 8 mil cópias. E o terceiro chega às lojas no fim do ano. A rotina de Palominha é digna de estrela do show business. Todo dia ela apresenta um programa de uma hora em uma rádio local e faz shows de quinta-feira a domingo — fora as viagens para o interior do país. Paloma vive com os pais e os dois irmãos em uma casa de três cômodos em Interlagos, periferia de São Paulo. A mãe, Eliane, cuida do visual da filha. Semanalmente, compra novos vestidos e sapatos — sempre de salto alto — para ela não fazer feio nos palcos. Palominha gosta de brincar de culto: transforma a tábua de passar roupas em altar e escala o irmão Paulo Henrique, de 11 anos, para tocar bateria, enquanto a mãe e o caçulinha da casa, João Paulo, de 11 meses, viram platéia. A brincadeira serve de ensaio. Ela está se preparando para um tour de dez eventos nos Estados Unidos. — Quero dedicar toda a minha vida à palavra de Deus. As pessoas me pediam para pregar, mas meu pai não deixava. Ele só queria que eu cantasse. Mas, quando eu tinha 9 anos, aconteceu: o pastor não apareceu, eu preguei e Deus fez milagres maravilhosos — conta.Assim como Paloma, Alex também se diverte brincando de pastor. Ele conta que quando ainda era bem pequeno, em Feira de Santana, na Bahia, costumava imitar o líder da igreja local:— Eu pregava em frente ao espelho, pregava para as plantas. Achava interessante, ficava fascinado e imitava.Um dia, Alex tomou coragem e pediu ao pastor para subir no púlpito. Tinha, então, 9 anos. A primeira apresentação foi um sucesso. No ano passado, sem um tostão no bolso, o menino resolveu tentar a sorte em São Paulo. Convenceu a mãe, a doméstica Maria Aparecida, a acompanhá-lo e instalou-se em Osasco. Ele conheceu o pastor Waldir Ruas em um culto. Alex conta que ficou de olho “no sapato bonito do irmão”. Hoje, Ruas cuida da carreira do garoto, que já tem oito sapatos do mesmo modelo e 12 ternos no armário. Alex gosta de assistir aos DVDs dos seus pastores prediletos, de jogar futebol e de passar horas lendo a Bíblia para preparar seus discursos. Ele quer começar a estudar hebraico ainda este ano e pretende fazer duas faculdades: filosofia e teologia. — Já joguei futebol na escolinha do Inter de Milão, mas percebi que não queria jogar bola. Queria pregar. A sensação é muito boa. Adoro quando termino e as pessoas vêm me dizer que sou bom orador — comenta.